Único divino tétrico amor, Adeus!

         I

A vida é única...

Verdade incontestável...

Mas... a minha... ah...

fora transformada,

num venoso rascunho...

Não há tempo de vivê-la...

nem intensamente...

nem verdadeiramente...

Tenho os olhos úmidos...

A tez petrificada...

Gélida esfinge de alva argila!

Longos anos... longos dias...

Tempo maldito...

Desgraçados olhos serenos... ah...

Meus brancos cabelos...

Ria... meu pranto...

II

Meu desespero...

Desejo amar... mar revolto...

Ondas densas engolindo o mundo...

Vivo um canto... uma opereta...

Seus lábios... não os vejo... não os tenho...

Anos... a morte... o vão...

Vago... busco... essência... ruínas...
Seu cheiro... ah... doce olor... divindade...

Voz... lembrança... prazer...

Altura... queda... precipício...

Um corpo... inerte... o copo... o corpo...

O seu... o meu... o enterro...

III

Paixão... temor... tremor...

Suspiro... ânsia...

Sereno... Lua... silêncio...

Vazio... suor... frio...

Música... badaladas...

Tempo... vento... pranto...

Desespero... solidão... silêncio...

Caixão... podre madeira... fé...

Desassossego... corpo... febre...

Lágrimas...cova.. terra...

Lápide... flores... adeus...

Ninguém... vazio... silêncio...

Calo o coração... esgota-se o sangue amargo...

Mas o amor... ah... ainda vive... sobrevive...

Te amo! Adeus!

IV

A matéria viva se decompõe...

Lágrimas... sangue... dor...

Espadas... lâminas... velas...

Palavras... não... silêncio...

A dor... uma vida por viver...

O rascunho... a saudade...

O vento... gritos... meu peito...

A dor... uma voz rota.. rouca... mouca...

Muda... o amor... o silêncio...

Ah... o tempo... te amo...

Adeus... pá... terra... flores...

Cadáver... vermes.. amor...

Dor... gemidos... grito... amor... lágrimas...

Peito dilacerado... dor... te amo...

Adeus! Te amo! Adeus!

Adeus!